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A comunicaçãO
na História

 

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Pesquisa dos anos 70
sobre a comunicação
na Revolução dos Alfaiates
é republicada pela atualidade do enfoque
e pioneirismo nos estudos culturais.
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Graças à competência técnica de Luís Guilherme Tavares, a Assembleia Legislativa conta com um núcleo de editoração que vem prestando importantes serviços à memória baiana. Se, por um lado, o trabalho revela o compromisso do Poder Legislativo e do seu presidente com a cidadania, por outro lado, a continuidade sistemática do programa editorial deixará na história da Bahia o testemunho de um momento da nossa vida social.

No âmbito das comemoração dos duzentos anos do movimento libertário de 1798, a Assembleia Legislativa e a Academia de Letras da Bahia publicam a segunda edição do livro de Florisvaldo Matos A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates.

Escrito na década de 70, como trabalho acadêmico, o texto merece ser conhecido por novos leitores, não somente pela retomada de foco sobre os revolucionários baianos, como também pela sua natureza formal. Trata-se de um trabalho pioneiro dos estudos culturais no campo da comunicação. Se hoje, o programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA elegeu os estudos culturais como direção das linhas de pesquisa que colocaram este curso entre os melhores do país, convém lembrar que, na década de 70, Florisvaldo Matos articulou os estudos da comunicação com as ciências da cultura.

Registando a primeira edição do livro, publiquei um artigo em A Tarde do dia 30.09.75 que retomo agora, lembrando o enfoque do momento.

O artigo começava assim:

"Marshall McLuhan no seu trabalho capital — Understanding Media: The Extensions of Man — colocou os meios de comunicação como elemento fundamental da cultura. Desde a sua publicação, há mais de uma década, até hoje, centenas de trabalhos seguindo a mesma orientação são publicados em toda parte. Paralelamente, a Linguística e a Semiologia desenvolvem questões análogas dentro de um enfoque estruturalista, retomando a linha traçada por Jakobson e Trubetzkoy no I Congresso Internacional de Linguística (Haia, 1928). Na Europa, o grupo da revista Communications — cujos trabalhos foram publicados parcialmente no Brasil, pelo Editora Vozes, na coleção Novas Perspectivas em Comunicação — lidera o pensamento mais atual. Entre nós, destacam-se principalmente os teóricos da poesia concreta Haroldo de Campos e Décio Pignatari, professores do curso de comunicação da PUC de São Paulo. Dentro deste quadro, qualquer lançamento de estudo teórico sobre o assunto seria apenas mais um livro.

Assim é que o poeta e jornalista Florisvaldo Matos, ao elaborar sua dissertação de mestrado, associou teoria e prática no estudo do fato histórico mais importante, ocorrido em 1798 na Bahia.

Hoje, é possível avaliar a importância do processo comunicacional nos movimentos políticos e sociais; o que não seria cogitado no Brasil do século XVIII, quando os textos eram copiados à mão e a comunicação oral, de pessoa a pessoa, substituía os atuais recursos da mídia. Muito embora a Bahia colonial vivesse uma época imprópria à comunicação, a Revolução dos Alfaiates, como enfatiza Florisvaldo Matos, teve como "espinha dorsal as estruturas de comunicação".

Estruturas primárias, é verdade, mas concebidas com o rigor necessário à consecução dos objetivos visados.

— "A comunicação foi a via pela qual respirou a revolução, nasceu, viveu e morreu nela". A proposta de Florisvaldo Matos é estudar um fato histórico que vem interessando vivamente aos historiadores baianos. Ou melhor: é reestudar, impondo uma linha interpretativa que parte de um esquema estrutural previamente elaborado — destacando o fenômeno informacional como base de todo o processo revolucionário de 1798. Evidentemente, não se trata de um trabalho de historiador, mas de pesquisa histórica, que se pretende "canal" entre dois sistemas: a Comunicação e a História.

Professor da Escola de Comunicação da UFBA, Florisvaldo Matos elaborou o texto indo em busca de importantes fatos que envolveram a luta da nossa gente pela causa democrática, dentro de um enfoque interdisciplinar que articula múltiplos elementos culturais.

Como ele acentua, os historiadores não se arvoraram a dar a última palavra sobre os diversos aspectos do movimento revolucionário de 1798; nem poderiam fazê-lo, dado o caráter do acontecimento.

Florisvaldo Matos compreendeu a importância da tarefa que vem desafiando estudiosos e, pioneiramente, tentou descodificar a mensagem do Movimento Democrático de 1798 à luz de novas linguagens, para que se possa estabelecer a interpretação global do sentido histórico, político e social do fato.

Dentro deste plano metodológico, o autor resgata e analisa a comunicação no Brasil Colonial e na Bahia do século XVIII, passando então a estudar o que seria "a teia da comunicação em 1798". No capitulo dedicado aos "Comunicadores da Revolução", Florisvaldo Matos propõe a existência de dois tipos básicos de comunicadores. Um tinha a responsabilidade de produzir as mensagens destinadas à formação da consciência revolucionária (integrado, naturalmente, pela chamada elite intelectual, incumbida do intercâmbio de "produtos culturais que formariam a base ideológica do movimento"). O outro se empenhava na produção de mensagens voltadas para a ação revolucionária (por sua vez, formado pelas pessoas "de classe social mais baixa, dentro do sistema,  acabaria por dar características populares à tentativa de rebelião, diferentemente do que ocorrera na Inconfidência de Minas, anos antes").

A Comunicação Social na Revolução dos  Alfaiates estuda as mensagens dos revolucionários, estabelecendo o papel assumido tanto pelas mensagens escritas e orais quanto por aquelas que eram submetidas a um inventário de sinais convencionais. Florisvaldo Matos destaca a importância de todo este trabalho, que ajudou não apenas a forjar a consciência de quantos se engajariam ao movimento, mas também, ajudou a delimitar tarefas revolucionárias, comunicando e transmitindo a orientação central dos conspiradores.

Livro inovador e pioneiro, A Comunicação Social na Revolução dos  Alfaiates  precisa ser retomado por outros estudiosos da área, pela contribuição frutífera aos estudos de comunicação."

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A comunicação na história. Artigo crítico sobre o livro A comunicação social na Revolução dos Alfaiates, de Florisvaldo Matos. Coluna “Leitura Crítica” do jornal A Tarde, Salvador, 31 ago. 98, p. 7.


































 
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